quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Voar - I - Nascer

Sinto-me apertado,
Esborrachado,
Esmagado sem saber onde;
Escuro, misterioso, obscuro,
Grotesco, estou fechado;
Mas... sinto-o:
Encarcerado,
Doloroso;
E abro os olhos
Para o escuro apagado;
Mas... abro-os...
Sinto-os e abri!
Sinto...
Que sou alguém
E quero viver:
Quero ser;
Deixar este nada,
Pois nada nao sou,
Porque sonho...
Sonho!
Quero viver...
Desejo...
Ser.
A ideia me ecoa
Enquanto penso...
Penso!
Sou realmente.
Mas nada vejo a frente...
Porquê?
Conformar?
Não...
Lutar.
Quero nascer,
Porque sinto, sonho e penso.
Sou alguém, que alguém quer ser.
E abro as mãos;
Estico os braços
Contra o nada que amolecendo, estica;
Com força,
Atiro contra a parede o meu sonho,
E o desejo intensifica;
As minhas unhas rasgam:
Como lâminas dilaceram;
O acroso líquido escorre por meus braços,
Mas quero ver
Porque os olhos abri!
E quero viver
Porque isso senti!
E rasgo!
Rasgo a corrente que me apertava!
A corda que me amarrava!
A coleira que me sufocava!
Frio, nu, desconhecido...
Apresento-me ao mundo que se abre;
Estico a mão...
Descerro os olhos para o céu:
E abre-se meu coração.